terça-feira, maio 25, 2004

Descompasso

Postado por Elisandro Borges

Esses são dias em branco. O que anda acontecendo com esse menino? Ele não sai mais pra brincar com os colegas de rua. Percebi que anda meio apático. Aqueles brinquedos estão todos abandonados pelo quarto e acho que desde que caiu do carrinho de rolimã, perdeu a vontade de brincar. Tenho tentado puxar conversa com o garoto, mas ele não quer saber de papo. O mocinho se trancou no quarto e nem televisão assiste mais com seus pais. Pedrinho sempre foi muito ativo, agitado, correndo pela casa e deixando um rastro de bagunça por onde quer que passasse. Esses são seus dias em branco. Dias em que o coração gela em silêncio cúmplice.

Procurei entender o que havia de errado com o seu mundo e descobri que não era o tombo que tinha levado do carrinho de rolimã. Foi uma queda sim, porém em proporções diferentes. Acabei encontrando uma carta escondida debaixo do travesseiro. Era de uma menina, da Clarinha. Seus pais estavam se mudando para outro país e não sobrou outra escolha. Ela teve que partir com eles. O amor nunca teve idade, ele também sabe ser precoce e dessa vez resolveu escolher duas pessoas em horas impróprias. Era a hora errada e ele errou mais uma vez. Será quem foi que errou? O tempo? Pedrinho? Os pais de Clarinha? Nenhuma justificativa ou qualquer palavra de consolo poderia tirar aquele aperto.

No fim da tarde, quando o sol começou a se pôr, voltou pra casa, sabe-se lá de onde e assim foi direto para o seu quarto. Lá ele ficou por horas, horas a fio. Sua mãe batia na porta e perguntava se estava tudo bem. Resposta? Nenhuma. Nada. Só mesmo a incerteza de Pedrinho quanto ao dia de amanhã e a dúvida ansiosa da mãe.

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segunda-feira, maio 24, 2004

Essa não é nenhuma novidade. O que digo agora pode até virar passado, mas o que passou acaba ficando e ainda carrego a imagem, a memória, a sensação... Não sou muito de ficar confessando coisas minuciosas dessa vida ligeiramente centrada em um único nariz – o meu próprio, mas prometo que vou tentar ser discreto.

Esse mundo de celibatário tá me deixando mais louco do que normalmente costumavam me conhecer. Não consigo parar de pensar nos trinta. Sei que ainda faltam mais ou menos quatro anos e meio, mas não estou sendo capaz de digerir o tempo que invade goela abaixo. Vejo minha sobrinha completando cinco anos e meus cabelos ainda continuam a cair. Minha cabeça mudou e minha opinião não sustenta mais o mesmo pensamento.

Vivo tentando criar um propósito novo, um objetivo que possa me manter em algum rumo, e mesmo não sabendo bem ao certo pra onde ir, não posso me dar ao luxo de parar. Essa corrida por dinheiro estressa qualquer aspirante a cidadão. Penso em ter filhos, talvez quem sabe, daqui a uns dez anos. Ao mesmo tempo em que penso isso, percebo o sofrimento que fiz meus pais passarem por minha causa. Tudo bem, não foi em vão. Existe sempre uma versão positiva pra essas coisas, até mesmo para o caos.

Resumindo, estou procurando ser feliz com o quinhão que ainda me resta e que assim há de me restar. Essa é a idéia. Dinheiro? É possível. Esquecer as pessoas que marcaram a minha vida? Isso não. É até covardia, um ultraje, uma afronta ao meu passado. Então deixa assim, enquanto o presente recomeça a cada segundo, vamos ver quem é que aparece da próxima vez...



Ouça em alto e bom som: Wallflowers - How good it can get

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Feche os olhos

Postado por Elisandro Borges

É estranho tentar abrir os olhos enquanto eles forçam para serem fechados ou até mesmo dizer qualquer coisa que se passa por aqui sem permissão e com um grau exacerbado de intolerância. Estou passando as noites em claro mais uma vez num divã sem precedentes.

Esse, por incrível que pareça, diz a verdade em tons de subserviência.
O rumo que esses pensamentos me levam ainda não permite premeditar as próximas estações. Elas são aleatórias em suas escolhas. De mudanças em mudanças vou colhendo fragmentos de contentamento e assim satisfaço o pouco que me sobra em acomodações ociosas do tempo.
Esses espaços em que me encontro por entre letras e sons dispersos deixam resquícios de indisciplina.

A lei do menor esforço é quase que onipotente e sua ação parece entorpecer em overdoses as lentes pelas quais enxergo o mundo.
É preciso lutar contra a decadência dos dias que nos fazem seres menos humanos. Os ponteiros giram implacavelmente.
A gravidade não perdoa a elasticidade da pele, mas também não tem o poder de anular as evidências de uma mente em expansão.
Desafios involuntários nos acertam em cheio nos supostos acasos que nos acometem em dias incertos.
Onde estão aqueles pés descalços que não encontram chão macio? E esse rosto desguarnecido que insiste em dar de cara com a intransigência?

Não foi nenhum homem velho que lhe aconselhou desde que você percebeu pela primeira vez os cinco sentidos.
A sua própria consciência urra em sequências desconexas nos sonhos em que lhe visita.
Sua comunicação interna pede socorro, ela encarecidamente implora por um norte.
Sua forma linear de compreender os fatos lhe cega o mais simples do bom-senso.
As paredes fechadas e janelas cobertas não deixam o sol entrar em suas devidas proporções.
Pode fechar os olhos agora.
Você já viu tudo o que foi permitido, inclusive o que não lhe competia tal interesse particular.
Feche os olhos.

Agora sim vai poder enxergar de verdade...



Ouça em alto e bom som: Portishead - Roads

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É assim...

Postado por Elisandro Borges

Aprendi que basicamente supomos muitas coisas e assim tentamos acreditar em nossas suposições. Aprendi que é preciso podar um pensamento negativo, pois ele prolifera-se em proporções imensuráveis. Aprendi que quando a gente corta, sangra... E que algumas pessoas são diferentes, outras indiferentes. Aprendi que se a gente não se cuidar, dificilmente o mundo vai se mover voluntariamente em nossos passos. Aprendi que se descobre verdadeiros amigos e que essa é uma questão de intuição e ponderação de julgamentos. Aprendi que em certas horas é necessário ter a memória curta, pois assim fica mais fácil perdoar.

Continuo aprendendo que minha estupidez é motivo de reflexão e que dessa forma eu posso entender melhor a estupidez dos outros. Aprendi que as almas nem sempre se topam, que nem todos vão com a sua cara, mas que existe um jeito para quase tudo. Sei que não basta dizer o que se pensa, e que é oportuno pensar antes no que dizer para não ter que digerir conseqüências intragáveis. Sei que muitas de nossas palavras não são verdadeiramente nossas, ainda assim, quando fazemos dessas uma atitude, encontramos um estilo de viver que se torna particularidade, embora a mesma confunde-se em semelhanças alheias.

Sei que não quero parar, mas de vez em quando é preciso sim, olhar para trás e tentar entender o que está acontecendo agora. Não consigo predizer o futuro e tenho falhado em muitas de minhas hipóteses, por isso é apropriado construir uma base mais sólida em nossa volta, base essa que seja capaz de suportar eventuais turbulências.

É engraçado, mas não adianta. Não adianta fechar as portas, de um jeito ou de outro, por mais fechadas que essas estejam, a poeira sempre acaba entrando e a única alternativa é continuar limpando essa sujeira. Esse não é o caso, o problema é deixá-la acumular na cabecinha enclausurada. Aprendi também que as palavras rebuscadas não surtem efeito quando colocadas ao esmo. Aprendi que a simplicidade é o melhor anti-sensacionalismo para os nossos medos arraigados. Pra quê complicar as coisas e colocar dificuldade em tudo? É assim. Complicado demais para entender que focinho de porco nunca foi tomada...


Ouça em alto e bom som: A Perfect Circle - The Outsider

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Poder

Postado por Elisandro Borges

Impublicável foi e tem sido. Sem essa de que vou censurar os meus instintos. Colocá-los no papel não vai ferir ninguém e eles não deveriam afetar aquela mania de pudor a cada capricho sobre medida. Tem tempo que não digo o que penso. Contenho a opinião e o silêncio guarda o impulso. É proibido pensar alto, suas idéias estão chegando a ouvidos estranhos e elas incomodam a ponto de interferir no ar em que respiram.

Verdades absolutas não deixam espaço para qualquer tentativa de contra-argumento. Silêncio mais uma vez. Uma voz se cala. O excesso de poder o faz menos humano e turva suas decisões antes consideradas democráticas. Poder. Ao que te pertence, sinta essa força, mas não passe por cima de ninguém. Detalhe, a vida costuma passear por entre a gente e pessoas se encontram lá na frente. Paciência com os que não entendem a sua língua. Não maltrate e nem seja rude. Não quebre aquele prato, talvez precisará usá-lo em horas de pouca abundância.


Ouça em alto e bom som: Faith No More - Evidence

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On kô tô?

Postado por Elisandro Borges

Livro, caderno, passaporte, relógio, tudo espalhado pelo chão. Na verdade eu não entro em meu quarto, eu mergulho de ponta e acabo me perdendo no meio de tanta bagunça proveniente de uma mente em pleno colapso. Impressionante! Já pensei até em por um trampolim aqui na porta. Tem até par de meias atrás da cortina. Aliás, elas não estão lá à toa. A intenção é fazer da janela um varal e assim não precisar ficar indo muito longe.

Morar "sozinho" tem desses improvisos, ainda mais em um país distante e tampouco familiar. Sem falar da comida. E a comida? Como é que fica? Bom, como cozinheiro tudo o que faço bem mesmo é um ovo mexido, uma beleza, pelo menos nunca reclamaram do cheiro, mas provar que é bom só eu mesmo pra correr o risco.

No entanto, desconsiderando a zona instalada pela pessoa que vos fala, o globo segue girando e graças à gravidade tenho conseguido manter os pés relativamente no chão, embora muitas vezes nem a gravidade é capaz de controlar a órbita em que gravito...



Ouça em alto e bom som: Damien Rice - Volcano

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Maré russa

Postado por Elisandro Borges

Nesse momento estou feliz, daqui a pouco vou estar triste, mas depois estarei feliz de novo, e depois triste, e depois feliz...

Isso tá parecendo brincadeira de “bem me quer”, “mal me quer”. Espero que a mesma termine em “bem me quer”, é claro. Essa constante oscilação entre altos e baixos é uma realidade praticamente imutável. Já ouviu falar em maré Russa? É exatamente isso que você tá pensando, é a mistura entre montanha russa e as marés que enchem e esvaziam o nosso território. Acho que o único e último ser inexoravelmente feliz é o bonecão do posto mesmo. Eu ia falar do pinóquio - aquele bicho de madeira ordinário e literalmente cara de pau, mas aí lembrei que na verdade ele é completamente frustrado por não ter virado gente, enquanto que o bonecão do posto não tá nem aí pra isso.

Sabe de uma coisa, já estou enjoado desse papo superficial de felicidade e de todos os textos ou cursos que tentam ensinar passo a passo com você os segredos de como ser um trequinho feliz, sem mencionar e já mencionando as diversas opções de pagamentos facilitados. Só falta irem receber em domicílio.

Não consigo mais ler manuais de autodestruição, ou melhor, de auto-ajuda. Hoje, qualquer migalha com o título: “Seja uma pessoa feliz em 10 dias e conquiste o seu próprio sucesso”, tem o poder de me dar dor de barriga, daquelas que nem elixir paregórico é capaz de curar. Acho podre qualquer tipo de clichê, se bem que às vezes me agracio com a infelicidade de ser o próprio em pessoa.

Em suma, nem mesmo os mais pragmáticos religiosos são felizes o tempo todo. Não adianta falarem que aquele vazio que sentimos é falta de Deus no coração, porque eles também são irmãos dos homens do mundo, e da mesma forma, sentem tristeza ou felicidade de acordo com o que vivem em cada situação. Chega de conversa. Deus nos fez seres humanos, e isso já é o bastante para responder quase todas as incógnitas a esse respeito...



Ouça em alto e bom som: Placebo - Where is my mind

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O simples fato de ser

Postado por Elisandro Borges

Ela não está em todos os lugares. Quase todos eles estão nela.
Ela não move um passo sequer até que um sopro de consciência lhe faça sentir a fome ególatra que suplica por saciedade. Essa fome deseja ser sufocada e não mais sentida. Ela pede para desvincular-se das amarras que a limitam.

Os bardos até que tentam agradá-la com palavras rebuscadas, mas em vão, apenas alimentam sua ingênua e contraditória auto-suficiência. Ela se debate contra seu próprio eu, busca alívio e soluça em lágrimas amargas. Já não assina mais o nome em seus versos. Não há mais a necessidade gritante de vitória ou o medo da derrota, há somente a simplicidade.

Há somente ela... Seja ela então, o que enternece o simples fato de ser.

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Epiderme

Postado por Elisandro Borges

Longe, muito longe do que eu poderia tocar e perceber o que era real. Acordei, mas fechei os olhos o mais rápido possível para tentar buscar aquele sonho interrompido. Já era, se apagou. Nada, absolutamente nada era capaz de trazer mais uma vez a sensação insubstituível.

Enquanto a voz macia me engolia por inteiro, eu me rendia sem saber o que estava acontecendo. Não existia cenário, não existia ninguém à nossa volta, e tudo o que se ouvia era a respiração ofegante em uníssono.

Epiderme... Éramos uma pele só.

Sua boca úmida e faminta deslizava sobre a carne pulsante. Um gosto de tequila e limão entorpecia o beijo em temperaturas incontroláveis. Irremediavelmente viciante. Não tive tempo de perguntar o nome dela. O seu rosto desapareceu no momento em que o sol transpassou a alcova de vidro.

E como sempre, amanheceu, simplesmente amanheceu...


Ouça em alto e bom som: Sevendust - Live again

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Que atirem os primeiros ovos

Postado por Elisandro Borges

Por mais remota que seja a possibilidade de encontrar uma explicação para o comportamento humano, volto a questionar essa necessidade quase que compulsiva de achar uma forma de expressar o que sinto. Às vezes falta assunto, mas a vontade de escrever não pára. Esse vulcão em plena erupção sem chamas me faz agonizar com tanta falta de inspiração. Preciso de conteúdo. Leio, leio e continuo lendo. Porém, ao fazer um balanço de tudo que tenho absorvido até o presente momento, percebo que tenho procurado as mesmas coisas de sempre. As fontes de tudo que aprendo continuam as mesmas. Não houve inovação. Aliás, tal palavra me soa um tanto quanto deslocada. Maçante isso, viu! Não vejo sentido nenhum em mascar o mesmo chiclete até perder o gosto e continuar esmagando aquela borracha interminável dentro da boca. É mais ou menos assim que funciona nossa mente preguiçosa, na hora de pensar, todo mundo quer dormir ou ir para o primeiro boteco pra falar “bestera” e rir da “doidera”(só pra rimar).

Nossa, como eu gostaria de ter o mínimo de interesse por política. O problema é que acho essas coisas um tédio completo acompanhado de bônus. Sei que precisamos estar informados sobre o que está acontecendo à nossa volta, mas simplesmente não dá pra ler um parágrafo sequer sobre qualquer assunto relacionado à POLÍTICA. Às vezes me arrisco a dar uma espiada meio às escuras nos sites afins, mas imediatamente perco o tesão. É por isso que as pessoas se juntam aos semelhantes. Tem coisa mais desconfortante do que estar na casa de alguém e de repente um estranho te abordar com a seguinte pergunta: “E aí, o quê você está achando da nossa política?”. Indubitavelmente, um buraco negro emanaria das profundezas do meu ser, caso algum cidadão manifestasse tamanha impertinência. Lembro-me daquele tipo de aniversário, daquele do amigo do primo de um conhecido da irmã de uma vizinha da avó do Antônio, que do nada resolve te convidar. E o pior é que, sem nada melhor pra fazer, você acaba arriscando a pele. Dá no que dá. Aquele tanto de gente estranha te faz sentir um astronauta pisando em terras inóspitas.

Podem me falar o que quiserem, mas minha opinião desinformada e boiante não faz questão de pegar as trouxas e se mudar daqui. Mas que política é um saco, não vacilo em dizer, é um porre!!! Simplesmente broxxxante. Eu achava que isso ia passar com a idade, mas já se foram dez anos desde que tive a primeira brilhante dedução. Ouvi falar também que isso tudo vai sarar quando eu casar. Façam as apostas então. Estarei torcendo por vocês, ou melhor, por minha risível compreensão da política que assola esse país. Não é possível que eu não sirva nem pra jogar ovo em político. Desprezível a indiferença do rapaz, desprezível!


Ouça em alto e bom som: Live - Run Away

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Recado 1

Postado por Elisandro Borges

Por mais que eu tente ser um homem humilde, um filho melhor, um amigo melhor, a vida sempre aparece no caminho e expõe as falhas que deixei para trás. Espero que se um dia eu deixar uma dessas falhas pelo caminho, que a vida apareça de novo em minha frente e me acorde em quanto há tempo. Compreensão nas horas de intolerância, paciência nas horas de ansiedade e força nas horas difíceis.


Ouça em alto e bom som: Incubus - The Warmth

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Sequestraram o Nesquick!!!

Postado por Elisandro Borges

Quem robou meu Nesquick?!! Isso é um sequestro psicológico muito grave! Não acredito que fuçaram em meu armário e tiraram ele de lá. O sacripanta que cometeu esse delito vai ter que aparecer por bem ou por mal! Só pode ser chantagem emocional, não tem cabimento. Será que não paguei o aluguel? Tá vendo o que dá morar de aluguel? Pessoas companheiras, conselho de amigo, trabalhem muito, o mais árduo possível, e quando puderem, não hesitem em comprar o próprio espaço, pelo menos não vão correr o mesmo risco que eu.

Para quem não conhece, os íntimos sabiamente me chamam de Zé do pão. Não vivo sem pão, mas sem Nesquick a vida é irrefutavelmente insípida. Simplesmente não dá pra ficar sem aquele gostinho de chocolate com leite que deleita na alma. É sério, bebo aquilo com a alma. Por sorte, terminei encontrando o cativeiro. Lá estava ele, escondido em condições completamente precárias. Não faço idéia, mas com uma proficiência de embasbacar qualquer perito em seqüestro, resgatei sagazmente minha felicidade confinada por alguns intermináveis segundos. Três colheres e um copo cheio de leite. Saudade que se mata em goles cavalares...


Ouça em alto e bom som, e recarregue os ânimos, por mais rastejante que seja qualquer segunda-feira: Jet - Are you gonna be my girl

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Cinco minutos de tolerância

Postado por Elisandro Borges

Podem me chamar de displicente, podem me chamar de preguiçoso, mas não abro mão dos meus cinco minutos de tolerância. O seu Edson que me perdoe, mas não consigo chegar pontualmente no trabalho. Pai, sei que você sempre se empenhou em me ajudar nesse ponto, mas algo me impede de ser assim. Esse nariz que não pára de escorrer sempre acaba me tomando os cinco minutos finais. Vamos lá, quando não estou gripado, outras desculpas aparecem do nada e me desligam da responsabilidade. Não consigo ver o tempo passar, e quando vejo, já foi. Principalmente quando estou em casa cuidando de minhas coisas.

Tudo que sei fazer aqui, é dormir em horários totalmente anormais. Pra se ter uma idéia, troquei literalmente a noite pelo dia. Chego em casa, mais ou menos às 5:00am. Entro no computador e só saio lá pelas 11:00am. Começo a dormir e o sol causticante lá fora me avisa que não sou mais uma pessoa comum entre os seres da minha espécie. Daí então, começo a dormir e acordo lá pelas 4:00pm. Volto ao ciclo vicioso da Internet, depois tomo um banho rápido, preparo alguma coisa pra comer e vou para o trabalho às 6:00pm. E assim seguem os meus dias previsíveis.

Nunca fui tão estranho aos meus próprios olhos. Essa vida bizarra me deixa completamente pasmo com a redoma que tenho criado em minha volta. Tá certo que estou vivendo em outro país, sozinho, longe de todos e talvez aí more um motivo bem sensato pra toda essa aberração. Seremos simplistas. Não existe segredo coisa nenhuma. O que acontece é que trabalho a noite inteira, resultado: não me sobra outra hora para dormir. Imagine como fica a cabeça desse alienígena? Vejo as pessoas como se elas não fossem reais. Só consigo enxergá-las em dollar (trocadilho imbecil, mas interessante).

Perdi a noção do que é um ser humano. Não sei mais o que é beijar na boca. Trabalhar de segunda a segunda não tem favorecido minha volta ao planeta dos humanóides. A verdade é que mesmo reservando uns dias de folga, não acredito que teria vontade de fazer contato com a civilização nativa. E eu achava que era um cara cosmopolita, versátil e sem maiores problemas com esse tipo de adaptação. Tá aí, é vivendo que a gente se engana. Achei que falar o idioma local me tornaria ao menos familiar para eles. Não me sinto nem um pouco assim. Me sinto um peixe fora d´água. E por falar em peixe, acabei de pular do aquário mais uma vez, tá vendo? O tempo passou voando e agora vou ter que fazer uso do meu velho, teimoso e inevitável... Cinco minutos de tolerância.




Ouça em alto e bom som, com o ouvido colado no alto-falante:
Dave Matthews Band - Gravedigger

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