quarta-feira, outubro 05, 2005

Te faço outra vez

Postado por Elisandro Borges

Pausa. Nada por aqui agora. Nada mesmo. A não ser um monte de interrogação sem início ou fim. Muita coisa muda de lugar, de temperatura, de forma, de interesse, e não pára. Amanhã você pisa em terra firme, uma hora em ovos. É seguro e confortável quando o medo te esquece. Era tudo tinta fresca e você queria fazer arte com esponjas e mãos. E o cheiro de tinta nova te dava vontade de comer patê de atum, que engraçado, não conheço ninguém assim. E você não existe, porque fui eu quem criou tudo, e arrumou, derrubou, quebrou, colou de novo...

Uma personagem pra me fazer rir, gozar, sonhar, acreditar e tentar de novo. Uma personagem sutilmente dependente de mim e ao mesmo tempo completamente livre pra ser o que pudesse ser e até o que quisesse. Me lembro quando você se escondeu na sacada e sem querer se apoiou no vaso que sua tia trouxe de Bombarral e foi inevitável. Dessa vez não tinha mais onde se esconder.

Mas vieram outros vasos. E outros... e outros tantos. Consigo ouvir os estalos até hoje. Agora você é uma mulher. Vi você crescer comigo, e sempre onde o peito bate mais forte. A minha melhor personagem, porque nunca abandona ou se deixa esquecer. Você não é como elas que se ferem e nunca mais se curam de seus cortes. Você perdoa e entende, se diverte com as chatices dos homens comuns e me faz chorar porque a barriga dói de tanto rir, ou me deixa sem graça quando a lágrima vem com soluço. Você não existe nesse mundo, meu amor, não existe mesmo. Só eu posso te ver e te ter. Só eu. Com esponjas e mãos, eu te faço outra vez aqui dentro.

Ouça em alto e bom som: Radiohead - Talk Show Host

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