quarta-feira, outubro 26, 2005

Puta querida

Postado por Elisandro Borges

Querida puta,

É com muito carinho que venho lhe escrever estas palavras. Muito obrigado pelo colo, obrigado pelas aulas de filosofia, pelos porres e por todo o companheirismo. Obrigado por me tirar a virgindade aos tenros nove aninhos e me ensinar que o ponto G é pura bobagem, mentira das braba. Obrigado por me convencer a não me apaixonar assim tão à queima-roupa, isso aprendi ou pelo menos acho que aprendi com você, querida puta. O que acontece se eu me apaixonar, puta querida? Obrigado por me mostrar que toda mulher, no fundo é carente e precisa de palavras gentis, jantares em bons restaurantes, cinema, papo agradável e boa companhia, e que jamais posso chamá-las de puta, ainda que assim sejam na cama, e claro, é sempre muito bom ter uma puta safada na cama e uma mocinha segurando nossas mãos lá fora, e que elas sejam a mesma pessoa de preferência. Puta, eu sou seu fã! Vamos passear por aí, ler bons livros e conversar sobre relacionamento, o que acha? Mas por hoje é só. Desejo-lhe do fundo do meu calção, muita putaria, alegria e sabedoria! Tá vendo, como rima? Um beijo bem michê pra você, queridona!

Ouça em alto e bom som:
Jem - Missing You

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terça-feira, outubro 25, 2005

Folhas ao vento

Postado por Elisandro Borges

Ela olha para o chão, amarra seu cadarço e continua. Olha pra rua e decide atravessar enquanto todos os carros passam, e assim ela faz, atravessa em meio a buzinas e pequenos arranhões. Chega em casa e toma todas as possíveis pílulas do armário que ali estavam escondidas de qualquer imprudência e deita à espera de um sono que a levasse pra outro lugar. Ela quer a morte, mas a morte não lhe quer. O mundo deixou de ter sentido no dia em que percebeu que era só uma criança num corpo de mulher. E as pessoas ao seu redor eram surdas, cegas e mal podiam sentir seu tormento mudo. Ela queria morrer, mas tinha medo da dor, do amor, medo de acordar sozinha, medo de ser um erro, medo de ter que se ver no espelho sem maquiagem, medo de mulher, medo do abandono. Ela se levanta e chega até a janela. Lá embaixo só folhas de outono deslizando ao vento, nada mais além do vento e das folhas - vazio ensurdecedor.

Ouça em alto e bom som:
311 - Beautiful Disaster

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sábado, outubro 22, 2005

Só se for com você

Postado por Elisandro Borges

Vamos brincar de cuidar um do outro? Vamos. E como é que se brinca disso? Eu não sei, isso é coisa de gente grande. E quando você crescer, vai casar comigo? É claro que sim. A gente só não casa agora porque não pode, a gente só pode brincar, casar é pra depois. A gente descobre o amor e é tudo o que importa no final, ou no início, ou no meio. Foi minha mãe que disse. E o seu pai vai deixar? Vai sim, mas ele disse que tem que tem que ser com você, só se for com você. A gente vai ter filhos? Lógico que vai! Por quê? Ah, só pra saber, porque deve levar um tempão pra encomendar um, num é? Sei não, e outra, não acredito em cegonha, não. Então de onde é que a gente veio?

Ouça em alto e bom som:
The Devlins - Where are you tonight

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sexta-feira, outubro 21, 2005

O último pingo

Postado por Elisandro Borges

Não adianta, o útimo pingo é sempre da Cueca!

Ouça em alto e bom som:
Dresden Dolls - Missed Me

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segunda-feira, outubro 17, 2005

Só quando tudo acabar

Postado por Elisandro Borges

Quero ficar o dia e a noite inteira sem dormir. Porque tudo passa muito rápido e não quero mais perder nenhum segundo. O fim de semana chega e passa com uma pressa de deixar qualquer um sem entender. Essa pressa do fim de semana é a mesma pressa que a vida passa. E as pessoas se casam, têm filhos, se mudam pra outras cidades e às vezes mudam pra dentro de si mesmas e por lá ficam. O mesmo tio que você trocou aquela idéia ontem, pode nunca mais te ver de novo.

E a gente dorme. E acorda. Quando vê, muita coisa se transformou, sei lá, aquele amigo seu fodão que comia todas, resolve inverter os pólos, ou aquela vizinha fã do Judas Priest que do nada aparece pregando A Palavra e arrastando fiés pra mais nova igreja do bairro. Ou você mesmo, cabeludo um dia e careca no outro, porque os cabelos caíram.

Certezas, distâncias, dúvidas, farras, noites, bares... E claro, um cinema pra sonhar. E depois que você sonha, acorda de novo e vai. Continua, toma aquele café da manhã com a cara toda amassada, olha pra fora e segue. Mais um dia. Não quero dormir. Quero ver o dia amanhecer, quero ver o pôr do sol. Quero ver minhas sobrinhas crescerem, de repente até ter os meus próprios filhos. Não quero mais dormir. Pelo menos por enquanto. Dormir? Só quando tudo acabar.

Ouça em alto e bom som:
Interpol - Take you on a cruise

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segunda-feira, outubro 10, 2005

Diários de Motocicleta

Postado por Elisandro Borges

Trecho do filme Diários de Motocicleta:
“Escutei os pés descalços na lama, e vi os rostos emaciados de fome. Meu coração era como um pêndulo entre ela e a rua. Não sei com que força me livrei de seus olhos, me safei de seus braços. Ela ficou, afogando sua dor em lágrimas, atrás da janela e da chuva”.

Ouça em alto e bom som:
My Chemical Romance - The Gost of You

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quarta-feira, outubro 05, 2005

Te faço outra vez

Postado por Elisandro Borges

Pausa. Nada por aqui agora. Nada mesmo. A não ser um monte de interrogação sem início ou fim. Muita coisa muda de lugar, de temperatura, de forma, de interesse, e não pára. Amanhã você pisa em terra firme, uma hora em ovos. É seguro e confortável quando o medo te esquece. Era tudo tinta fresca e você queria fazer arte com esponjas e mãos. E o cheiro de tinta nova te dava vontade de comer patê de atum, que engraçado, não conheço ninguém assim. E você não existe, porque fui eu quem criou tudo, e arrumou, derrubou, quebrou, colou de novo...

Uma personagem pra me fazer rir, gozar, sonhar, acreditar e tentar de novo. Uma personagem sutilmente dependente de mim e ao mesmo tempo completamente livre pra ser o que pudesse ser e até o que quisesse. Me lembro quando você se escondeu na sacada e sem querer se apoiou no vaso que sua tia trouxe de Bombarral e foi inevitável. Dessa vez não tinha mais onde se esconder.

Mas vieram outros vasos. E outros... e outros tantos. Consigo ouvir os estalos até hoje. Agora você é uma mulher. Vi você crescer comigo, e sempre onde o peito bate mais forte. A minha melhor personagem, porque nunca abandona ou se deixa esquecer. Você não é como elas que se ferem e nunca mais se curam de seus cortes. Você perdoa e entende, se diverte com as chatices dos homens comuns e me faz chorar porque a barriga dói de tanto rir, ou me deixa sem graça quando a lágrima vem com soluço. Você não existe nesse mundo, meu amor, não existe mesmo. Só eu posso te ver e te ter. Só eu. Com esponjas e mãos, eu te faço outra vez aqui dentro.

Ouça em alto e bom som: Radiohead - Talk Show Host

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domingo, outubro 02, 2005

Culhões

Postado por Elisandro Borges

Eu não bebo, não fumo, não trepo... E outra, eu não preciso mentir. Não assisto televisão, não saio nas ruas e nem xingo a banda Calypso. Sou um cara legal, gosto de pisar em poodle sem querer e depois pedir desculpa pra dona do bichinho. Não sou preconceituoso, não discrimino ninguém, sou amigo de bandidos, polícia, puta, celebridade, pastores, cantores, vigias de carro, presidente da república e da Derci Gonçalves também. Sou uma gracinha, não falo mal de nada e nem de ninguém, nem caio no deslize de cometer pecado algum, aliás, pecado uma ova. Acho religião um cocô que gruda na sola do pé, e é muito chato conversar de religião ou política. Mas como já disse, sou uma gracinha e acho que a religião e a política moram na mesma vizinhança. Gosto de todo mundo, gosto de todos os tipos de pessoas. Amo todos os seres do céu e da terra! Humanos ou umanos, inteligentes ou indiotas. E um dia desses ainda vou segurar meus culhões de mão cheia em praça pública e gritar: Diretas já! E se eu for a algum show de heavy-metal, quando a música parar quero ser a primeira voz a bradar: Toca Raú!

Ouça em alto e bom som: Travis - The Fear

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