terça-feira, março 08, 2005

Estranho aos nossos modos

Postado por Elisandro Borges


Aquele homem caminha ao final de todas as noites, logo enquanto todos sonham. Caminha pra respirar o ar solitário das manhãs que ainda não despertaram. O café amargo lhe desfaz o sono inerte e toca suas vontades mais subversivas. Ninguém o vê sair, com exceção daquela senhora do sétimo andar que nunca apaga a luz para dormir, se é que dorme sequer, e do louco que os conta meias verdades. Sob os olhos da mulher vivida, ele finge não notar que está sendo observado do alto. E parece ser do alto a origem de todas as suas ânsias, lugar extremo onde mantém sua incansável mania de dar bom dia ao sol.

Quando todos acordam, ele some. Não existe mais o personagem de imaginações ingênuas durante os gritos da cidade inquieta. Sua paciência seria notável se pudéssemos vê-lo nos dias banais de quem paga suas contas. O engraçado é que aquele homem nunca se deixou morrer. Estava ficando velho, no entanto possuia a memória suficiente o bastante para espanar as poeiras de sua mente. Não sei se alguém o conhece, é estranho aos nosso modos. A senhora do sétimo andar um dia conseguiu cruzar o seu caminho, só que esmoreceu ao tentar qualquer sorte de contato. E ele passou. Passou pela primeira, e talvez última vez.

Ouça em alto e bom som: Los Hermanos - Cara Estranho

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