terça-feira, março 01, 2005

Dormente

Postado por Elisandro Borges


Minhas vontades egoístas só te alimentam o tédio. Fico pensando que talvez não devo administrar bem o tempo, dois nunca são um e nunca serão. Eu não sou capaz de ser completamente eu quando penso em você. Alguma parte vai ter que ficar sufocada e dizemos então que abrimos mão disso ou daquilo. Sufocar as vontades antigas e adquirir hábitos novos, porque é preciso satisfazer o outro. Mesmo que isso signifique esquecer os próprios caprichos. Pode ser. Aquele que esquece a si mesmo deve ser a melhor companhia, pois vai estar sempre a postos do outro. Eu sei que exagero em quase tudo, mas ouvi você falar em solidão acompanhada.

Foi um choro, é verdade, você chora, sente saudades... Saudades. Saudade não se conta nos dedos, não sei então por que vai para o plural. Escuto o seu nariz escorrendo aqui bem perto de mim, é você chorando baixinho no escuro. Não consigo mais chorar por nada. Acho que nada me comove. Acho que não consigo sentir mais pena de ninguém. Não sei qual é a dor do outro, mal sinto a minha. É estranho estar dormente por esses cantos. Me sinto nulo nesse minuto. Não existe expressão alguma no rosto, meu rosto, é claro. Agora desligo a música que me alegrava pra te dar sossego e porque você assim pediu. Amar. Amar é também se acostumar. Amar é ter muita paciência. Amar é muito mais do que penso, é talvez muito mais do que sei oferecer.

Ouça em alto e bom som: Los Hermanos - Sentimental

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