quinta-feira, julho 29, 2004

Chove aqui dentro

Postado por Elisandro Borges


Você está pegando chuva mais uma vez. O que te deu na cabeça pra ficar sentado na porta de casa se molhando todo? Quem te ensinou a beber água da chuva? Quem te ensinou a conversar sozinho? O que te faz pensar tanto e olhar para o nada como se tudo a sua frente fosse transparente? Você desligou, simplesmente desligou. Volta aqui, aonde você vai? Sei que as coisas que rondam seus pensamentos são só pedaços. Por onde andou deixando esses pedaços?

Ainda chove forte, e sei que chove aí dentro também. Você não pode mais evitar as águas, elas estão transbordando agora. Os seus olhos não vão mais segurar esse peso. Esse nariz escorrendo não é de gripe e a voz engasgada por fim pede calmaria. Ela fica em silêncio por fora e imóvel por dentro. Sei que não precisa chamar a atenção de ninguém e quando alguém percebe, você disfarça, distancia. Você quis evitar as pessoas, quis evitar suas fraquezas. Mas são essas fraquezas os seus maiores moldes. Olhe só pra você e pare de chorar como criança que tropeçou no cadarço daquele tênis desbotado. Você precisa se acostumar a amarrar seus cadarços por conta própria, agora é praticamente só você por essas bandas.

Entenda, seus limites têm um espaço, limites que travam sua visão. Abra bem a pupila e deixe a luz entrar. Perceba que existem vozes de pessoas reais do lado de fora. Perceba. Simplesmente comece por perceber que pessoas precisam de atenção, e que elas uma hora sentirão falta disso. Comece a enxergar que você não é o único e que seu lado ególatra pode te isolar de novas caras ao redor. Eu sei que sua cabeça está explodindo e que a pressão parece massacrar sua razão. Mas vai, encontre o seu abrigo. Levanta esse astral, escreva uma carta pra você e dê um dia de descanso para suas autocobranças. Enquanto essa chuva não passa, faça um chá quente... Descanse um pouco e cuide bem de você.

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