segunda-feira, maio 24, 2004

Cinco minutos de tolerância

Postado por Elisandro Borges

Podem me chamar de displicente, podem me chamar de preguiçoso, mas não abro mão dos meus cinco minutos de tolerância. O seu Edson que me perdoe, mas não consigo chegar pontualmente no trabalho. Pai, sei que você sempre se empenhou em me ajudar nesse ponto, mas algo me impede de ser assim. Esse nariz que não pára de escorrer sempre acaba me tomando os cinco minutos finais. Vamos lá, quando não estou gripado, outras desculpas aparecem do nada e me desligam da responsabilidade. Não consigo ver o tempo passar, e quando vejo, já foi. Principalmente quando estou em casa cuidando de minhas coisas.

Tudo que sei fazer aqui, é dormir em horários totalmente anormais. Pra se ter uma idéia, troquei literalmente a noite pelo dia. Chego em casa, mais ou menos às 5:00am. Entro no computador e só saio lá pelas 11:00am. Começo a dormir e o sol causticante lá fora me avisa que não sou mais uma pessoa comum entre os seres da minha espécie. Daí então, começo a dormir e acordo lá pelas 4:00pm. Volto ao ciclo vicioso da Internet, depois tomo um banho rápido, preparo alguma coisa pra comer e vou para o trabalho às 6:00pm. E assim seguem os meus dias previsíveis.

Nunca fui tão estranho aos meus próprios olhos. Essa vida bizarra me deixa completamente pasmo com a redoma que tenho criado em minha volta. Tá certo que estou vivendo em outro país, sozinho, longe de todos e talvez aí more um motivo bem sensato pra toda essa aberração. Seremos simplistas. Não existe segredo coisa nenhuma. O que acontece é que trabalho a noite inteira, resultado: não me sobra outra hora para dormir. Imagine como fica a cabeça desse alienígena? Vejo as pessoas como se elas não fossem reais. Só consigo enxergá-las em dollar (trocadilho imbecil, mas interessante).

Perdi a noção do que é um ser humano. Não sei mais o que é beijar na boca. Trabalhar de segunda a segunda não tem favorecido minha volta ao planeta dos humanóides. A verdade é que mesmo reservando uns dias de folga, não acredito que teria vontade de fazer contato com a civilização nativa. E eu achava que era um cara cosmopolita, versátil e sem maiores problemas com esse tipo de adaptação. Tá aí, é vivendo que a gente se engana. Achei que falar o idioma local me tornaria ao menos familiar para eles. Não me sinto nem um pouco assim. Me sinto um peixe fora d´água. E por falar em peixe, acabei de pular do aquário mais uma vez, tá vendo? O tempo passou voando e agora vou ter que fazer uso do meu velho, teimoso e inevitável... Cinco minutos de tolerância.




Ouça em alto e bom som, com o ouvido colado no alto-falante:
Dave Matthews Band - Gravedigger

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